quinta-feira, 30 de junho de 2016

Sol Num Dia Frio

tenho quarto
tenho cama
mas em nenhum
dá pra dormir

pois são lembranças
são as mantas
cobertas
cobertas
de solidão



e eu que prezo o sol
enquanto o mesmo
não me esquenta
mais

e eu que acolho o bem
enquanto o mesmo
não me retribui
mais

e eu que prego a paz
enquanto a mesma
não faz questão
de mim


chove
na minha cabeça
lá dentro
tempestade de areia
que ofusca
meu saber
minha visão
e com isso
me faz perecer

e me faz enegrecer
os pulmões, cada vez mais
e me faz infestar
este recipiente orgânico
com os males
psíquicos e pseudos


e no dia
da dor
no dia
do rancor
das mágoas
do desaforo
ela apareceu
e
ela

regou as flores
aparou a grama
estendeu as roupas
e fez sentido
ela se encaixou

mas logo após
perceber que
não é difícil
mas também
não é fácil
e perceber que
as engrenagens
não giravam
como pensava
foi embora

mesmo sabendo
que eu limpava as engrenagens
que eu fazia a banda tocar
que eu colhia as flores que plantou
guardava as roupas que estendeu
e cheirava a grama que aparou
mas
mesmo assim
ela veio
como uma brisa
e foi-se
me esquentou
e me esfriou
como o sol num dia frio

sem culpa
sem dor
sem mágoas
mesmo sabendo
que não teria
nenhuma

e eu ainda
sentado aqui
no mesmo lugar
em que ela
aliviou a pressão
espero sentado
pelo dia
que ela vai voltar
e ver a roupa guardada
e a grama bem cuidada
e as flores em seus vasos

minha querida
minha bela rosa
não tenha medo de errar
pois sabes que não irás
tenha medo de não
poder
viver
e de não
poder
sentir

nenhum futuro é prospero
pois nenhum futuro é
certeiro
mas fazemos o melhor
que podemos
dele

então lhe peço
que decore minha vida com o teu museu
e me faça perder o fôlego
que acenda a chama que já morreu
e sacie-me com teu mais doce néctar

peço
o abraço
teu

careço
do toque
seu


mergulhemos juntos
nesse mar tão nebuloso
nesse universo tão louco
e nessa cúpula tão minúscula
com esse clima tão louco
e essas canções tão tristes
e essas garrafas tão vazias de tudo
e esses problemas tão paranoicos
e vamos fazer
o melhor
desse futuro



e eu ainda lembro
dos três dias seguidos
em que você me confortava
com tua voz tão calma
com tuas risadas tão viciantes
com as nossas conversas tão brisantes
e tuas fotos tão lindas
e teu cabelo ensolarado
e seu sorriso alucinante

mesmo assim
os caminhos foram turvos
e a direção mudou
e eu ainda
sinto falta
de tudo



os machucados não curam
as cicatrizes não somem
nem fecham
e nem abrem

as cores são fracas
daltônicas
o cigarro me fuma
e a bebida me bebe



por mais difícil que seja
talvez, como você disse
as coisas simplesmente tem que acontecer
nosso horário tá errado
e nosso encontro, desmarcado
nosso tom
desafinado
nossa música
perdeu sua letra





e eu
ainda quero
você aqui
comigo

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