sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Luzes Distantes

Quando você menos se depara
Com a fria presença mentindo sobre o passado
Com a fúnebre incerteza do futuro
Com os laços da caixa de presente
Você descobre que está vivo

Nas escuras florestas que habitamos
Existe uma crueldade em particular
A nossa mesma

Viajamos por tempos tão turbulentos
Beijamos mentiras
Amamos o vento
Mas ainda assim, nós corremos
Corremos e corremos
Com a esperança que corre conosco

O amor virou elogio nos casais mais transparentes
O medo nos abraça nas esquinas mais escuras
A ansiedade tá casada com o desespero
E a vergonha é sempre coletiva

Corremos atrás de ilusões pra satisfazer o vazio
Enchemos balões de cigarro
Saciamos sinapses com álcool
Tudo para no final do dia
A gente chorar com agentes ilegais

Vivemos em tempos árduos
Com teus pássaros tão mudos
Batendo asas violentamente contra a brisa
Respirando constantemente os escapamentos
Para alimentar suas crias
Agora tão inocente
Mais tarde, tão vazias

Vozes ausentes contam estórias que eu nunca pedi pra ouvir
Que eu nunca pensei que eu imaginaria
Os telhados caindo e desabando
Foi lembrando do passado
Que eu o concertei
E chorando pelo mesmo
Que eu o desarrumei
Já foram vinte janeiros, que eu me desencontrei e
Em cada um deles
Eu conheço novos perfumes
Que logo em fevereiro
Eu tenho que esquecer
Por talvez eu ser uma fragrância sem esperança
Por talvez meu manicômio ser extrapolado
Mas todos os dias eu volto para balançar os pêndulos do tempo, incansavelmente, manhã após manhã
Desejei sabores que eu não pude degustar
E cicatrizei as marcas de pessoas que eu nunca mais verei

Tudo saciou
Nada constou

Éter

Se não der pra estar aí
Eu tô aqui pra te provar
Já viajei por tantos astros
Minha mente é interestelar

Deito camas
Viajo planos
Sem ter aonde chegar
Chego e esqueço
Tudo aquilo que eu
Vim para cantar

Penso agora
Ajo no futuro
Quebrou correntes
Com os bolsos
Tão duros

Quero caminhar os teus passos
Quero perseguir teus traços
Paixão distante, caixas de diamantes
Eu me afogo em teu riacho

Rio e passo
A caneta
Pra minha mente
Turbulenta
Minhas mãos são utensílios
Meu coração, uma ampulheta

Penso e existo
Como no passado
Já foi dito
Já foi escrito
No presente
Que meu coração bate
E pede esmola

Tanta gente
Tão ciente
Do estrago
No presente
Não se sente
Só acende
Seu cigarro
E compreende
Que o mundo já não é de todos
A terra é só um globo
Escondendo biritas que
Satisfaz o povo

Aluguei
Um espaço em
Outro universo
Me decepcionei
Quando vi
Que as estrelas
Me sentiam do avesso

Em todo canto
Ouço um pranto
Sinto um manto
Me ofuscando
De tanta dor
Tanto escândalo

Me vesti pra uma guerra
Que eu perdi antes de entrar

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

O Próprio

Voo por milhas
Caio por léguas
Irreversivelmente
Me encontro no meio das tréguas

Não sei se brigo com a paz
Não sei se caso com a dor
Fico nas entrelinhas
Discutindo ódio e amor

De todas as luzes
A tua brilhou mais forte
Mas apagou minha escuridão
Com sua silhueta forte

Me escondo dentro de cacos
De um espelho sem reflexo
Me apoio no parapeito
Da janela dos remédios

Penso se devo agir
Penso se devo aderir
Penso no que se fez
No que se fará
No que falhará
Se eu não aturar
Outro dia
De tantas brigas
Estando cansado
Sem ter pra onde ir
Eu me deito e viro pro lado

Senti um calor tão próspero
Que eu guardei num frasco
Na minha Bíblia tem escrito
Que eu não passo de fracasso

Me comparando com planetas
Viajando em silhuetas
Enquanto leio nas pranchetas
A minha próxima dor

Penso em todas as galáxias
Que me mantém na asfixia
Que me lêem com dislexia
Em anos luz de rancor

Me prendo em páginas viradas
Deito com os pés na almofada
Pra abafar encruzilhadas
Aonde encontrei amor

Lembro de sangrar
Lembro de me contentar
Com invernos solitários
E com nuvens cor de âmbar
Eu me desloquei do ato
Moribundo como um rato
Dos esgotos da cidade
À florestas, voei alto

Viajei pelas tuas curvas
Caminhei pelas tuas ruas
Mal sabia a minha pessoa
Que elas eram todas suas

Aqui você esqueceu tuas placas
Ainda leio endereços
Das esquinas da cidade
Em que eu me perdi nos becos

Declarei bandeira branca
Um sonho de criança
Que tá bem vivo, sabe
Que não existe tal cobrança

Inimizade de aliados
Me fizeram alienado
Por amizades inseguras
Aonde pesco em águas limpas
E eu bebo águas sujas

E é tudo no mesmo lago
Peixe não nada raso
Foi então que percebi
Aonde o meio estava falho

Mergulhei bem de cabeça
Do topo do meu barco
Quem me prometeu amor
Nunca tinha me avisado

Que eu era esfaqueado
Por desconhecidos em pergolados
Aonde eu cheirava flores
Que não estavam do meu lado

O ditado foi ditado
Por quem nunca acordou
Ditadores da justiça
Ditando nota que me atiça
Falso olhar que me vigia
Hoje eu quero tua ausência

Traição de irmandade
Considerei todas as falhas
Me pegou subitamente
Me dizendo tão na cara
Que sou uma pessoa falha


Uma hora tudo acende
Tudo vai surpreender
Quando despertamos nosso ser
É que começamos a ser
Mais nós

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Brilho Corrupto

dentro de mim
e dentro de si
Dentro de ti
Existe algo bom

O vento que entra
Da janela, dá naquela
Sensação tão distante

O preço que cobra
Do apreço que enrola
Duas artérias
Coagula matéria
Viaja dimensões

Ilusão de dois corpos
Previsão para duas almas
Virarem uma só

Deito em meu leito
Feito de parapeito
Que impede o futuro
De ficar tão escuro

Observo tuas estrelas
Os ossos do universo
Piscando tão distantes
Brilhando pelo avesso
Pois já passaram anos
Mas vocês nunca desistiram
Viajam iluminando
Ruas no vazio

Ruas tão mortais
Que matam quem não se
Prepara

Não quero ser mais um
Numa molécula viajante
Num passado tão distante
Do presente que se faz

Só diminuindo sua alma
Que você descobre do que é
Capaz
De formar um mundo inteiro
De sentir todos os cheiros
Do vácuo que se forma
A cada momento feito

De todas as pessoas
Escolhi as que destroem
Me livrei das que constroem
Me passei por quem corrói
Pra achar quem me compõe

Quem sabe é você
Quem sabe eu não sei
Procuro em cada esquina
Uma placa que dita leis
Um sinal que indica vez
De quem vai me deixar sozinho

Eu sigo vivendo isso
Essa boêmia mal escrita
Eu disse tchau pra quem amei
Disse oi pra quem odeio
Só tentei me passar
Por mais um lobo no cordeiro

Mas todos eles
Querem ser o tal
Pastor

Mal sabem os coitados
Que todo pastor
Tem seu deus

E mal sabem os deuses
Que toda criatura
Na nossa raça
Não se cansa de
Poder
Ter poder

Assim
Que morrem
Os deuses