Quando você menos se depara
Com a fria presença mentindo sobre o passado
Com a fúnebre incerteza do futuro
Com os laços da caixa de presente
Você descobre que está vivo
Nas escuras florestas que habitamos
Existe uma crueldade em particular
A nossa mesma
Viajamos por tempos tão turbulentos
Beijamos mentiras
Amamos o vento
Mas ainda assim, nós corremos
Corremos e corremos
Com a esperança que corre conosco
O amor virou elogio nos casais mais transparentes
O medo nos abraça nas esquinas mais escuras
A ansiedade tá casada com o desespero
E a vergonha é sempre coletiva
Corremos atrás de ilusões pra satisfazer o vazio
Enchemos balões de cigarro
Saciamos sinapses com álcool
Tudo para no final do dia
A gente chorar com agentes ilegais
Vivemos em tempos árduos
Com teus pássaros tão mudos
Batendo asas violentamente contra a brisa
Respirando constantemente os escapamentos
Para alimentar suas crias
Agora tão inocente
Mais tarde, tão vazias
Vozes ausentes contam estórias que eu nunca pedi pra ouvir
Que eu nunca pensei que eu imaginaria
Os telhados caindo e desabando
Foi lembrando do passado
Que eu o concertei
E chorando pelo mesmo
Que eu o desarrumei
Já foram vinte janeiros, que eu me desencontrei e
Em cada um deles
Eu conheço novos perfumes
Que logo em fevereiro
Eu tenho que esquecer
Por talvez eu ser uma fragrância sem esperança
Por talvez meu manicômio ser extrapolado
Mas todos os dias eu volto para balançar os pêndulos do tempo, incansavelmente, manhã após manhã
Desejei sabores que eu não pude degustar
E cicatrizei as marcas de pessoas que eu nunca mais verei
Tudo saciou
Nada constou