sexta-feira, 26 de maio de 2017

Visita

As vezes eu
Recebo algumas visitas
Em peculiares
Outro dia foi a morte
E ficamos trocando
Olhares

Outro dia foi a dor
Que me abraçou
Com tamanho
Amor

Outro dia foram teus olhos
Que me olharam
E depois viraram
Pra focar
Outro alguém
Pra visitar

Num dia qualquer
Foi meu amor
No outro dia
O que sobrou

Num outro dia
Foram palavras
Que matavam qualquer
Alma viva

Depois bateu aqui
A discórdia
E depois
O álcool

E todos os dias
O tabaco

Mas nunca que eu recebi
Alguém
Que queria ficar

Uns deles vem
Todos esses vão
E uns desses vêem
Que eu tô andando sem
Chão

Cheguei a cogitar
A ideia de chorar
De solidão
Mas aprendi a viver
Entre andares e escadas
Aonde todos esses
Apertam minha mão

A noite é fria
E lá se vai
Mais uma esperança
Se esvai
Se contrai
Me enfrenta na contramão

Bati de frente
Com tanta gente
Que me deixou

Em vão

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Consenso do incenso

Eu senti meu mundo cair
Tantas vezes
Que eu o reconstruí
Do avesso

E eu chorei por tantas esquinas
E por tantas vidas
Que eu perdi
Só hoje

Senti o gosto
De tanta lágrima

Se alguém pudesse
Se afogar em lágrimas
Nem imagino
Forma pior
De morrer

Eu descobri
Que é possível

Eu me perdi por tantos mundos
Tantos que eu não quis voltar
Foi quando quebrei um copo
Sem querer
Que eu pude perceber
Ainda sem querer ficar
Eu me mantive com a cabeça
Em outro lugar

Eu encaixei tantas peças
Tantas conversas
Pra tentar descobrir se
Lá fora, agora
Ainda chovem raios

Eu sintonizei as estações
Pra contar os ponteiros
Desses vastos corações
Aonde aquele distinto odor
Sem cheiro, sem cor
É comum na vegetação​

Não sinto que sinto
Mais nada
Fui um brinquedo, um cachorrinho
Abandonado pelos donos
Como quem desvia do caminho

Em caixas afogadas
Num mar com redemoinhos
Eu nadei tão pra baixo
Que eu chego a sentir
As algas
Enrolando em meu pé

O centro é tão sozinho
O medo é tão escuro
Adjetivos para o bem
Não existe em corações puros

Ventos que ventam na contramão
Cacos estilhaçados pelos vãos
Nadando em sentimentos
Eu tento e
Tento
Achar razão

Me deixou sem direção
Placas e endereços
Já não existem mais, não
Você me trouxe pro alto
E me soltou mirando o chão

Cordas bambas ofuscam
O labirinto da emoção
Os caminhos da razão
As linhas da escuridão

Sozinho me encontro
Entre o lúcido e o inferno
Terno, eu visto o que prende
Fardo, eu carrego o que sobra
Revejo só o que trago
Nas costas de quem me troca

Eu subi tão alto no teu morro
Que acabei deslizando
Com tua chuva

Passou tempo, gastei vida
Pra você me deixar com a culpa

Entreguei cada sentimento
Rendi cada momento
Pra sua presença única

Colecionei pedras e palavras
Que me dizias em noites turvas

"Espero que você seja só meu"

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Lullaby

Eu quero ser seu
Diário
Eu quero ser seu
Armário
Eu quero ser seu
Cabeçalho
E mais importante
Eu quero ser seu