sexta-feira, 19 de maio de 2017

Consenso do incenso

Eu senti meu mundo cair
Tantas vezes
Que eu o reconstruí
Do avesso

E eu chorei por tantas esquinas
E por tantas vidas
Que eu perdi
Só hoje

Senti o gosto
De tanta lágrima

Se alguém pudesse
Se afogar em lágrimas
Nem imagino
Forma pior
De morrer

Eu descobri
Que é possível

Eu me perdi por tantos mundos
Tantos que eu não quis voltar
Foi quando quebrei um copo
Sem querer
Que eu pude perceber
Ainda sem querer ficar
Eu me mantive com a cabeça
Em outro lugar

Eu encaixei tantas peças
Tantas conversas
Pra tentar descobrir se
Lá fora, agora
Ainda chovem raios

Eu sintonizei as estações
Pra contar os ponteiros
Desses vastos corações
Aonde aquele distinto odor
Sem cheiro, sem cor
É comum na vegetação​

Não sinto que sinto
Mais nada
Fui um brinquedo, um cachorrinho
Abandonado pelos donos
Como quem desvia do caminho

Em caixas afogadas
Num mar com redemoinhos
Eu nadei tão pra baixo
Que eu chego a sentir
As algas
Enrolando em meu pé

O centro é tão sozinho
O medo é tão escuro
Adjetivos para o bem
Não existe em corações puros

Ventos que ventam na contramão
Cacos estilhaçados pelos vãos
Nadando em sentimentos
Eu tento e
Tento
Achar razão

Me deixou sem direção
Placas e endereços
Já não existem mais, não
Você me trouxe pro alto
E me soltou mirando o chão

Cordas bambas ofuscam
O labirinto da emoção
Os caminhos da razão
As linhas da escuridão

Sozinho me encontro
Entre o lúcido e o inferno
Terno, eu visto o que prende
Fardo, eu carrego o que sobra
Revejo só o que trago
Nas costas de quem me troca

Eu subi tão alto no teu morro
Que acabei deslizando
Com tua chuva

Passou tempo, gastei vida
Pra você me deixar com a culpa

Entreguei cada sentimento
Rendi cada momento
Pra sua presença única

Colecionei pedras e palavras
Que me dizias em noites turvas

"Espero que você seja só meu"

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