Ontem eu saí de mim
Refém dos maus ditados
Ditei caminhos entre a mata
Me perdi quando vi
Tua estátua
Quando consegui
Pegar no sono
Acordei trancado
Em mim mesmo
A janela fechada
A porta trancada
O colchão desarrumado
Meu cabelo bagunçado
E você ainda não
Estava lá
Eu me senti decompondo
Necrosando, em todos os pontos
Eu tô na bagunça do labirinto
Que você construiu por aqui
Eu me assustei com as sombras
Eu me acostumei com a lombra
Eu esqueci de pagar a conta
E hoje moro
Na escuridão
As crises me acompanham
Me pagam café, e falam fanho
Eu não entendo muito bem
Mas sei que não vão embora
Tentei sair da minha mente
E hoje não volto mais
A pele encurva, o corpo retorce
Ansiedade e amnésia
Esqueço todos os nomes
E lembro das faces
E visito os vultos
Me pego preso em
Todos os lugares
Viverei
Vivereis
Vivemos
Virá e verá
Que não é só
Mais uma rima
É uma história de vida
Plantando a colheita
Vivendo na espreita
Vim vendo e vivendo
Essa angústia minha
De todos os dias
Mas não é só constante
Tanto quanto é delirante
Minha esquina e minhas ruas
Hoje só abrigam turbantes
Seres ignorantes
Ignoram as próprias faces
Se o dinheiro tá no bolso, irmão
Tu não vale a amizade
É essa a realidade
Que distorce minha vontade
De ficar vivo no mundão
Mas não complica não
Tô vivo e tô firmão
Minha história só acaba
Quando o mundo perecer, meu irmão
E vou navegar
Pelas águas, vou beber o mar
E respirar o ar
Das árvores lá de casa
Vivendo no tormento
Mas escrevo meu diário
Plantei cadernos no meu armário
E hoje o mundo
É colorido