A foto de duas faces, que atormenta minhas memórias a cada vez que me deparo com esta fotografia mental.
O tormento que me trás lembrar dessas coisas irreais; pior que me desce involuntariamente à cabeça.
Por que tudo fica tão falso quando se quer ser feliz?
Por que que tudo é tão profano quando se quer acreditar?
Por que tudo é tão suicida quando tentamos salvar, ou por que tudo é tão triste quando tentamos pintar?
Por que as tintas das canetas são brancas quando vamos escrever?
Por que o fogo falha ao tentarmos acender a tocha que alimenta o nosso ser? Ser!
Por que tudo é tão morto quando queremos viver, ou por que tudo foge quando tentamos confiar?
Não aguento mais viver lembrando de tudo o que passou, não aguento mais tentar voltar no tempo para consertar e mudar as palavras, as ditas palavras que deram um fim a razão. Não ouço mais os pássaros cantarem de manhã, não ouço mais os sapatos dançarem pelas ruas, não ouço mais as vozes cantarem pelos bares, nem as garrafas derramarem o seu néctar em um copo barato qualquer, em uma mesa d'um bar qualquer, com rabiscos e insetos qualquer. Tudo que eu ouço é o passado voando a minha volta, com vagas imagens dela sentada ao meu lado, olhando para mim com seu olhar penetrante e profundo, com seus lábios carnudos, com um batom vermelho; oh, que perfeição! Enquanto seus dedos entrelaçados com os dedos meus fazem movimentos suaves e leves, acariciando as costas da minha mão. Enquanto minha cabeça pesada descansa sobre a sua coxa que massageia, me fazendo relaxar. Enquanto meus olhos estão de encontro aos dela. Enquanto tudo acaba com a chuva gelada que cai sobre o meu rosto, e confunde minhas lágrimas; enquanto o poste na esquina joga minha sombra ao chão, pondero, me deparo com a tristeza me fazendo companhia, me oferecendo o mate amargo. E as roupas molhadas, e o meu pranto, e o vazio pesa em mim, enquanto eu junto forças para levantar, e sair daquele lugar, onde o ar pesa para respirar, onde a solidão já se faz presente. Adeus ao céu cerúleo.
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