As vezes o rosto cai
Com uma simples canção
Que cura
As vezes a história volta
E o passado vem a tona
E a chuva chove
Como nunca choveu antes
Na janela
O barulho
O silêncio
Está nos jornais
Que já foram vendidos
E nas livrarias
Que já foram fechadas
A história dos anciões
Que já foram assassinados
E o dinheiro de todos os bancos
Que já foram queimados
E o final
Que já acabou e começou
E acabou e começou
Mais de duas vezes
Tem o suspiro mais árduo
Tem a risada mais vazia
Tem a garrafa mais cheia
Dentro de cada coração
Tem o lamento vazio
E a voz da solidão
Dentro de cada distância
E de cada vez que ouvimos: "Não"
De cada felicidade
E de cada sorriso de verdade
E a cada mão que se estende pela bondade
Não pela falsidade
Não pela desigualdade
Mas pela irmandade e pela coletividade
Que falta na humanidade
Podemos ser um só
Podemos cantar a mesma canção
Podemos mentir para o mundo
Mas não para os olhos do nosso coração
Vamos tentar
Vamos arriscar
Ser diferentes
Conscientes
Vamos sentir
O ar
Vamos cantar
O som
Vamos bailar
O ritmo
E afogar
O espírito
Na garrafa
E trancar
E matar
Beijar
Abraçar
Acalentar
Deixar
E fim
Como o único beijo que revive
O sentimento mais belo
Que vaga pelas artérias
E entra pelas aortas
Que bombeia o plasma mais cruel
E mais quente
E mais vívido
E mais independente
O filho chora
Com o pai que se prende
Numa garrafa
Num oceano
De um planeta qualquer
E os ombros
Cada vez mais baixos
E os olhos
Cada vez mais cinzas
E o dia
Cada vez mais tarde
E a tarde
Cada vez mais
Tarde
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