questiono os caminhos
desenvolvo a reação
para eu poder achar o ninho
e escapar da tal prisão
que nos prende todos aqui
em lindos dias de devaneios
e feios céus cinzas e nublados
vejo o choro familiar
ouço a voz falar
que se arrepende amargamente
de tudo o que viveu
até aqui e até agora
não consigo levantar da cama
tem dias que tudo é dobrado e amassado
como uma folha que já não é mais verde
há tempos e tempos
e eu me esqueci
de comprar os remédios
para tratar esta loucura que é
viver sem pensar
viver sem medo
viver sem viver
pra tratar das canções antigas
que só colocam curativos nos mesmos lugares
que já foram curados
há tempos e tempos
o amor traz esperança
em lugares que a luz já não habita mais
e o acalento traz a segurança
para os braços daqueles que já vivem em paz
gostamos de ganhar
e gostamos de perder
só se perde e se ganha
aquele que sabe viver
sem ter a lua pra chorar
e a pedra fria jaz a acalentar
o coração de quem clama por saudade
nos parques da liberdade
aonde o verde costuma transar
com os ventos, navegar
e a maré, libertar
e partir
como partem os amantes
levando todo o coração
todos os pedaços que sobraram
de cada trecho da velha canção
e de cada poesia que se teve
em cada velho ancião
que cada neto aprendeu
em vão
de todos os lugares
deu pra ouvir o vento chorar
de todos os bares
deu pra ouvir a garrafa quebrar
e cortar, a mão que alimentava
os pobres que sustentava
em pleno ar de ocasião tão casual
me perdi nos risos falsos
e me encontrei nos espelhos rachados
em cada parte desta calçada
jaz um pranto em meados
meados de uma época tão distante
logo reparo teu semblante
em cada aorta que bombeia o meu sangue
em cada neurônio que escreve este poema
e em cada tecla que concretiza esta canção
é esquecida
é abandonada
apodrece
cai viva, e morre deitada
tenho uma e mais mil
respostas para uma grande questão
é a solidão
que concretiza a reação
que fabrica a poção
do amor
com tanto louvor
e tanto calor
e tanto sabor
e tanto vigor
que existe em compaixão
ao próximo
ao irmão
do sorriso mais caro
à mente mais aberta
do bolso mais farto
à vida mais esbelta
que é moldada pelos caminhos
que escolhemos com imprecisão
na hora de chorar
gritamos para o colchão
e encharcamos o travesseiro
clamando por perdão
ao nosso coração
que já é todo remendado
com pedaços de outros vinhos
que compõe a solidão
é como não querer aprender
a ser um louco sem razão
durou mais que cem mil anos
a tortura da razão
e viveu mais de cem vidas
o querido anfitrião
que habita todo o mundo
que criamos em coesão
do vinho mais barato
ao cigarro na mão
escrevendo tais poemas
sem sabedoria
ou tesão
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