segunda-feira, 6 de abril de 2015

Sempiterno

existem dias que os tabuleiros
mudam de cor

existem horas em que os ponteiros
marcam o tempo da dor

existem dias em que os morteiros
lançam confetes de cor
de sangue, de amor
de dor

existem segundos em que os olhos
passam pelo inferno e voltam
agradecendo ao resto do dia que chegou

existem beijos que selam
e outros que enganam os olhos do amor

existem olhos que piscam
e marcam o laço da infidelidade e do pavor

existem aves que voam
para um lugar que se desconhece o perigo
e sobre tudo o que falam é de amor

amor
palavra tão errada
e tão leal
pronúncia tão universal
direito tão limitado
e garantido pelo metal que cravamos no osso
pelo metal tão falso
pelo metal tão brilhante
e é esquecido a razão
que tal palavra veio a existir
não por anéis
não por burcas
não por atitudes
mas por amor

amor por amor
olhares fitados
corpos entrelaçados
solidões tão distantes
muito mais que anéis
muito mais que burcas
muito mais que atitudes
mais por amor

até quando moldaremos a natureza para exibir a evolução
até quando mataremos as presas que só caçam em prol de sua geração
até quando colocaremos diamantes
e couro
e unhas
e dentes
e ossos
e pele
e sangue
e cabeças
e patas
e braços
e pernas
em materiais tão naturais

a solidão se manifestou
as lágrimas caem em monte
eu perdi o que mais valia
eu perdi minha família
eu me sinto incompleto
eu me sinto escasso
eu não me sinto mais
amado

apenas beijos em vão
abraços em vão
corpos em vão
que sentiram meu calor
degustaram do meu gosto
e partiram para o horizonte
em busca de outras razões
de outros gostos

e as belezas que importam
já não se interessam pelas minhas
as belezas da personalidade
pois se a beleza dos olhos azuis reinasse esse mundo
os deuses estariam mortos

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